Em seu doutorado, Stefania Vacaru estudou quando as crianças começam a se conectar com outras pessoas por meio de mímica social e os fatores que influenciam isso.

Preste atenção na próxima vez que você estiver com alguém que você gosta. Você repete alguns dos gestos dele ou dela? Ou talvez a maneira como essa pessoa se senta ou fala? Ou talvez tenha sincronizado seus passos com os dele ou dela? Bem, você não está sozinho. A ação de imitar alguém, a mímica social, é uma ferramenta importante que conecta as pessoas. Ao copiar o que os outros fazem, não só aprendemos a fazer certas coisas e a expressar emoções, mas também mostramos afinidade e proximidade com alguém. E isto desempenha um grande papel na aproximação das pessoas e na promoção da filiação. Mas perguntas como o quão cedo isto começa a acontecer ou o que influencia isto ainda não tem uma resposta clara. E foram elas que intrigaram a cientista Stefania Vacaru.
A pesquisadora romena nem sempre se interessou em ciência. Seu projeto de mestrado foi o que a convenceu a seguir uma carreira acadêmica nas ciências sociais. Na época, como parte de seu estudo, ela foi morar em um orfanato na África do Sul. Lá, ela estudou como as crianças órfãs percebiam-se a si mesmas, e como isso se relacionava com seus comportamentos e interações com os outros. Esta experiência imersiva de viver com estas crianças desencadeou questões ainda mais fundamentais sobre seu trabalho e a levou a fazer um doutorado no Donders Institute for Brain, Cognition and Behavior, na Holanda.

Uma das perguntas que a intrigou foi quando as crianças começam a imitar ações e expressões faciais para mostrar seu desejo de se conectar. “Eu esperava que, desde muito cedo, as crianças já fossem atores sociais habilidosos e imitassem outros. Ou, em outras palavras, imitar os gestos, posturas, expressões faciais dos outros, para se afiliarem aos outros”, explica Stefania. E, com base em seu estudo, crianças de 3 a 5 anos já apresentam tais comportamentos.
Mas será que a mímica social das crianças de três a cinco anos de idade depende de outros fatores além da idade? Esta foi a segunda pergunta que Stefania e seus colegas investigaram. E eles decidiram focar em um aspecto crucial do desenvolvimento de uma criança: o padrão de relacionamento com seus pais. Para isso, basearam sua avaliação nos estilos de apego descritos em uma teoria de John Bowlby. Na teoria do apego, o psicólogo propôs que a forma como interagimos e nos relacionamos com nossos cuidadores durante nossa infância é fundamental para nosso desenvolvimento e relações futuras.
Em resumo, existem três categorias de estilos de apego. E elas diferem em sua motivação para ter relações com os outros. Pessoas com apego seguro tem um forte vínculo com seus cuidadores, sentem-se mais seguras para explorar o mundo e formam melhores conexões com os outros no futuro. Pessoas com apego inseguro, por sua vez, provavelmente tiveram pais que eram inconsistentes ou insensíveis. Como resultado, a pessoa pode se enquadrar na categoria resistente, quando se anseia por intimidade, mas há medo contínuo de ser deixada sozinha. Ou ele ou ela pode se tornar um evitador ou uma evitadora, quando não se busca proximidade e se rejeita comportamentos reconfortantes de outros. Nestes dois últimos padrões, os indivíduos têm dificuldades em formar e manter relacionamentos.

Para estudar como o estilo de apego torna a criança mais ou menos disposta a se conectar com os outros, Stefania fez dois experimentos. Em um deles, ela e seus colegas basearam suas hipóteses no fato de que a mímica social é importante para a conexão com os demais. Neste experimento, eles estudaram se as tendências de apego explicadas acima influenciam a mímica facial em crianças de 3 a 5 anos. Para isso, Stefania mostrou fotos ou vídeos de expressões faciais para as crianças enquanto ela gravavava a atividade elétrica dos músculos faciais com uma técnica não invasiva chamada eletromiografia. Surpreendentemente, os cientistas realmente viram diferenças no padrão de atividade dos músculos faciais. E “as crianças que estão mais ansiosas e apegadas, portanto também com maior motivação intrínseca para se afiliarem a outros, têm mostrado mais mímica facial”, explica ela. Assim, sugerindo que a forma como a criança se relaciona com os pais pode afetar a forma como imitamos as expressões faciais e nos conectamos com os outros.

Em seu outro experimento, eles também estudaram a mímica facial das crianças enquanto jogavam um jogo online que acessa a exclusão social. Neste jogo de arremesso de bola, a criança brinca com dois jogadores virtuais: um includente e um excludente. O jogador includente joga a bola para ele ou ela de maneira justa, ou seja, eles jogam a bola um para o outro na mesma quantidade de vezes. Por outro lado, o jogador excludente não joga a bola para a criança igualmente. Depois do jogo, um emoji de um dos jogadores com expressão facial feliz ou triste foi mostrada na tela e a atividade muscular facial da criança foi medida com EMG. Neste estudo, Stefania e seus colegas “descobriram que quando as crianças são excluídas por um jogador durante um jogo, elas tendem a imitar mais este jogador mais hostil do que o jogador mais gentil”. E de acordo com a interpretação da autora, isto provavelmente acontece porque a criança quer se associar com o jogador excludente, já que a afiliação com o jogador includente já foi estabelecida. “E mais uma vez, os resultados sugerem que o vínculo de pais e filhos influencia se as crianças imitarão outro alguém ou não, a fim de demonstra interesse em se conectar. E aqueles com um vínculo inseguro (uma relação na qual as necessidades da criança não são adequadamente atendidas) não mostram nenhuma reação, mas uma resposta de congelamento”, completa Stefania.

É importante destacar, no entanto, que os estudos de Stefania foram conduzidos com um grupo de crianças européias vivendo em um país ocidental, educado, industrializado, rico e democrático (WEIRD), a Holanda, e eram em sua maioria brancas. Portanto, deve-se ter cautela ao generalizar os resultados para outras populações. Da mesma forma, os estudos foram conduzidos em laboratório, a fim de ter mais controle dos aspectos que podem influenciar os resultados. Então não necessariamente o que foi observado na pesquisa representa o que acontece fora do laboratório. E, finalmente, os padrões de apego das crianças foram avaliados com base nos relatórios de seus pais, o que pode ser enviesado e pouco objetivo.
Mas estudos como o de Stefania enfatizam o quanto de informação social as crianças já absorvem quando novas. E como o que elas aprendem molda o quanto elas estão dispostas a interagir com os outros, como elas interpretam as interações sociais, bem como como demonstram seu afeto através de expressões faciais ou outros comportamentos. “É importante conscientizar os pais e professores sobre a importância dos jogos e estímulos sociais precoces. O bebê é um agente ativo de seu ambiente e suas capacidades de aprendizagem são impressionantes”. E isto também tem uma relevância clínica, pois tais estudos podem ajudar a formular “possíveis intervenções para crianças com déficits sócio-emocionais, como o autismo, ou crianças que sofreram negligência que podem ter distúrbios de apego”, explica Stefania.
É importante conscientizar os pais e professores sobre a importância dos jogos e estímulos sociais precoces. O bebê é um agente ativo de seu ambiente e suas capacidades de aprendizagem são impressionantes.
Quando não está trabalhando nas suas pesquisas, Stefania ainda dedica muito de seu tempo a melhorar a educação e o bem-estar das crianças. Por exemplo, ela lidera um clube do livro para motivar as crianças a ler, e também ensina inglês para crianças. Ela acredita firmemente que todas elas devem ter as mesmas oportunidades e ela se esforça ao máximo para ajudar nisso. Além disso, ela também gosta de jogar tênis e cozinhar.
Muito obrigada por compartilhar sua história conosco, Stefania! Que você continue inspirando não só seus alunos, mas também todos nós com sua dedicação à sua pesquisa.
Você pode continuar acompanhando a carreira de Stefania aqui e aqui.